Sexta-feira, 29 de Maio de 2009
Atravessas o tempo e respiro com o teu nome dentro.
Sempre, é conhecer-te desde o primeiro Maio.
É verdade que por vezes penso onde não estou,
no agridoce alargar de cada espera.
Hoje, para que saibas, foram quase minhas as tuas mãos.
Ouvia o murmurar de outras viagens sobre as nossas cabeças
e enquanto falavas estremecia para longe,
como as crianças fogem da casa onde são felizes
em destino aos castelos de mais ainda,
rumo a olhos com o vento dentro e vozes de caramelo.
Quando contornamos as horas com a cautela dos gatos,
uma voz silenciada infiltra as palavras desnecessárias.
Ei-la que murmura impossíveis noites e manhãs de sono,
uma dança em pleno dia ou serem de cada um as nossas mãos.
Uma voz que esvoaça e diz: É tão pouco, afinal, tudo o que falta.
Terça-feira, 17 de Fevereiro de 2009
O tempo encolhe-se na linhas de cor antiga,
a sépia as percorre como pauta.
Ouve-se a voz perdida entre as falésias,
levada pelo vento perturbado de espuma.
Ressoa na distância o adeus soprado, difuso,
já sem cor ou rosto. Rumor apenas.
Um adeus de oceanos sem carta que os una,
apenas rochas escavadas por dentro das tardes
e o temor de não haver nem essa voz desvanecida.
Segunda-feira, 26 de Janeiro de 2009
Bebe o sumo desta pedra. De onde vem? Para onde te leva?
O vento desvenda esse corpo que fervilha, inquieto
fôlego de puro sangue.
Abro-te cauteloso, como a um livro de cabelos brancos.
Em movimentos de violino expostas as tuas cordas em sol,
fluem a glória e o êxtase e a água, a luz e o alimento.
Só no fim irrompe a descoberta,
deixa o seu lugar oculto. Parte daqui.
Deste lugar por onde ninguém passa.
Quarta-feira, 14 de Janeiro de 2009
É húmida a trajectória dos meus dedos. Deitam-se no teu corpo queimado,
gatos irrequietos, ansiosos não.
Nada para além do som que vibra, sem idade, sacrílego quase de tão humano.
As portas do meu desejo têm nomes e um deles o teu, talvez isso baste.
Quarta-feira, 7 de Janeiro de 2009
Na luz que escapa subtil e fugaz por entre os dedos,
em palavras sopradas durante o sono
e livros sublinhados a vermelho.
É por aqui que foge o teu nome quando respiro,
por esta página também, meu corpo de janela aberta.