Terça-feira, 25 de Maio de 2010

Na varanda das noites

Fugi dessa casa por construir

 

e hoje tenho os dedos amarelos de pensar porquê.

 

Fui sem querer.

 

Onde o vento era, aí estava eu em lugar algum,

 

como se fosse

 

ou conseguisses pensar-me, ver-me sem medo,

 

assim pendurado na varanda das noites.

publicado por João Villalobos às 17:00

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Quarta-feira, 17 de Março de 2010

Onde os pássaros mordem

Eis que o tempo se oculta nesses lábios onde os pássaros mordem.
Retenho deles uma palavra em surdina que permanece,
húmida e respirada, odorífica e doce.
 
Por dizer descansam as certezas.
Hoje foste sal em ervas frescas, o corpo entregue feito carta.
 
Respondi-te assim, com a calma dos loucos:
Virá em breve essa primeira tarde, inteira e ofuscante.
Nesse dia a nossa música antiga tocará. E eu em ti.

publicado por João Villalobos às 11:38

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Quarta-feira, 11 de Novembro de 2009

Dias de bronze

Dias de bronze.

Sons que pingam e sombras vermelhas.

Todos vivemos horas que nos atravessam

de tão ausentes, na inflexível soturnidade.

 

A poeira regressa.

Memórias nas suas mãos, fragmentos de riso

e beijos de chocolate em postais vindos de perto. 

Palavras como "lembras-te" e "faz hoje anos que".

 

Avançar o tempo.

Acontecer o mistério e esse tempo parar

ou pelo menos ter o sabor de uma praia.

Dizer assim: "Agora fico aqui". E ser verdade.

publicado por João Villalobos às 22:02

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Quinta-feira, 15 de Outubro de 2009

Sílabas de Outono

 

Esta é a última escala do amor e em dia de vento percorrida.
Cada viagem desenha o seu próprio sonho,
marca a firme impressão dos dedos  em cada largada.
 
Fosse o meu desejo veloz e longo, um comboio nocturno
ou um navio antigo, desses cujo vapor aquecia à distância
os  amantes imóveis, abraçados em cais de madeira escura.
 
Esta viagem tem apenas um nome e é o teu, sílabas de Outono.
publicado por João Villalobos às 21:17

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Segunda-feira, 2 de Fevereiro de 2009

Uma palavra pequena

Entre todos os gestos por levitar

um existe que aproxima do céu,

que eleva e queima na passagem

como fogueira de Junho. 

 

Quando trocamos de tempo,

distendes os braços em forma de gato

e a luz reveste de mercúrio a tua pele,

com memórias futuras a semeia,

pão de Páscoa.

 

Então subo por ti adentro e vou. 

 

Fresca é essa vida que celebras

em língua desconhecida,

solar a tarde que paira sobre a cidade

com anjos nos seus degraus. 

 

O amor uma palavra pequena.

 

publicado por João Villalobos às 15:01

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Segunda-feira, 19 de Janeiro de 2009

Quando partes

 

Qual o maior de todos os segredos,
o modo invisível de viver-te?
Há no meio da cidade um jardim e estátuas decapitadas.  
Aí os abraços partilham a lucidez do tempo, alongam-se
nas sombras impossíveis do meio-dia.
 
Quando não falo, sabes o que quero dizer-te. Sempre
as mãos em fogo,
longas e vorazes,
exactas e vivas.
 
Há dias sem ar e outros em que te respiro. São os mesmos.
De casa em casa, transporto a tua ausência em caixotes vazios.
É o mais misterioso dos mistérios, este que apenas pressinto
na íntima indiferença das estátuas sem cabeça,
nos seus impávidos olhos abertos .
Que sinto em ti, quando partes, ainda ofegante de silêncio.
publicado por João Villalobos às 11:56

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Segunda-feira, 12 de Janeiro de 2009

O fulgor dos metais

 

Temo que não exista essa glória que aguardo,
à sombra das palavras oscilantes.  
Na antecâmara dos que esperam, apenas o eco de murmúrios
vindos de qualquer dentro por nomear.
 
Ergo-me na proa de um navio que se desfaz a cada golpe de azul
e o  Sol reflecte o duro fulgor dos metais,
sente-se na língua.  
 
Algumas frases são lâminas e outras pedaços de fruta.
Muitas ferem, poucas assemelham-se a olhos de criança.
 
publicado por João Villalobos às 12:21

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Sexta-feira, 9 de Janeiro de 2009

Apenas o destino

Nunca conheci Alexandria ou o contorno dos seus olhos.

Este mar que sussurra desígnios imensos é para mim inacessível
e cobardes são as viagens quando terminam nos teus braços.
 
O corpo não parte sem o desejo. Assim, torno-me sábio do que tenho.
Que outros sejam os guerreiros da cidade, os reis de longe.   
Alexandria é apenas o destino.  
publicado por João Villalobos às 16:37

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Segunda-feira, 5 de Janeiro de 2009

Quanto mais

 

Concluí pela cama atravessada na garganta, hoje que chove foge-me a memória
até onde quer que nasçam as romãs.
Não é necessário tocar-te,
apenas abrir a porta
deixar entrar os animais que a noite soltou desamparados e os restos,
o que sobra nos ossos entre as pedras, malsã daninha.
 
Agarro como a um livro a tua pele carcomida pelos bichinhos de prata,
saboreio-a com a língua morta e o que digo nem eu entendo, quanto mais.  
publicado por João Villalobos às 14:47

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