Quarta-feira, 9 de Dezembro de 2009

É difícil falar do amor

Parece fácil falar de amor

E há outros temas bem mais urgentes

planeta a sufocar, crises emergentes

o mar a subir, o excesso de calor

 

Pensar nas paixões, quis eu supor

daria versos pouco exigentes

ideias banais, algo incoerentes

poesia sem chama e sem ardor.

 

Soube então o que falhara em entender:

a água passada é como um rio imenso

que se impõe ao presente, temível, denso

 

Um desgosto corre sempre assim, penso

e recordá-lo de menos é esquecer:

ter amado não é ter vivido, é ainda viver

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publicado por Luís Naves às 12:49

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Quarta-feira, 18 de Novembro de 2009

A mágoa

Minha mágoa envelhece devagar

A morte vem mais longe do que parece

e as feridas nunca param de sangrar

nessa profunda noite que arrefece

 

Um vento triste tenta esvaziar

a dor tranquila que me endoidece

pensando na incerteza de encontrar

um grito que do medo transparece

 

Quando a solidão áspera fica espuma

se a pequenez do total se apercebe

esvaio-me exangue, em luz pura, em suma

 

Sei que sobra o que nunca se concebe

sou a sombra fugaz de coisa nenhuma

que do amargor apenas desgosto recebe

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publicado por Luís Naves às 16:07

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Terça-feira, 10 de Novembro de 2009

Reflexões de um banqueiro

Não é trivial a vida de um banqueiro

Mas foi para isto que subi neste edifício

Apenas dez por cento de sacrifício

Assim funciona o mundo financeiro

 

Sete mil despedidos em setenta mil

Se ao menos tivesse um sector gangrenado

A urgência seria mais verosímil

E só para isso daria meio ordenado

 

Inútil, esta é uma ideia mesquinha.

Sabendo embora que não consta uma linha,

procuro no texto algo sobre os efeitos

Um facto conhecido, não somos perfeitos.

 

Preferia uma solução cirúrgica, talvez,

Sei que um dia será a minha vez

Mas este corte terá de ser cego,

As minhas convicções nunca renego.

 

Sete mil quase parece desperdício

no entanto será apenas o início

Na redução do excesso de custos.

É simples: os bancos têm de ser robustos

 

A sua lógica é sempre ao contrário

E assinar este memorando é necessário.

Entre os trabalhadores que estão parados

Escolherão sempre os mais desgraçados.

 

Que cruel é esta crise maldita!

A sorte de cada um já está escrita

Perde quem deu mais, quem for frágil

Fica apenas quem se mostrou mais ágil

 

Mas desta maneira fica a economia

bem mais resistente e saudável.

Um passo decisivo em cada dia

Torna o nosso banco mais viável

 

Pensar tanto vai-me na alma pesando

Mas alguém tem de saber dominar o povo

Por isso, sento-me na cadeira de novo

E, sem hesitar, assino o memorando.

 
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publicado por Luís Naves às 10:51

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Quarta-feira, 4 de Novembro de 2009

Solitário

Nestas margens da brisa ergo-me solitário.

Escorre chumbo líquido pela terra dourada,

a quente emoção do medo emerge do nada

e a miragem brilha no horizonte refractário.

Vagueiam turbilhões de calor e de poeira

vozes de areia onde perto algo rasteja

e o visível é incerto, talvez nem ali esteja,

sopra vento imperfeito em abismos sem beira.

Desolação da alma, respira-se demasiado

Meu coração rebenta, os sentidos em revolta

e sufoco no mundo morto largado à solta

que, solitário, prefiro viver condenado.

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publicado por Luís Naves às 09:18

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Segunda-feira, 2 de Novembro de 2009

Desistir de nós

Se eu voltasse atrás, o que faria?

Podia fazer tudo o que não fiz

poderia querer tudo o que não quis

sabendo, embora, que nada mudaria.

 

O destino decidiu o que seria

Falaste como fala uma boa actriz,

guião desenhado no quadro a giz

e disseste-me adeus, e chovia.

 

Percebo bem que não foste sincera.

O que ia acontecer era o que era

e um adeus não tem de ser desistente.

 

Mas se penso em ti e quero mudar

a vida não recua, está sempre a andar

e desistir de nós estava à nossa frente

 

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publicado por Luís Naves às 12:30

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Domingo, 1 de Novembro de 2009

Perto, o labirinto

Ali ficaste, parada, perante mim

como se fosses um simples enigma egípcio.

A boa história precisa de infeliz fim

algo de irreal que não pareça fictício.

 

O nosso labirinto andara ali bem perto

e seguíamos perdidos no exterior dele

o mais longe é como se fosse o mais certo

a distância entre nós é arrepio da pele.

 

Deixa-me, pois, levemente tocar-te

será esse o final da nossa história

Assim distante poderei enfim amar-te

pois o amor confunde e acerta a memória.

 

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publicado por Luís Naves às 16:59

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O amor não é nada disso

No começo, foi mágico feitiço

Eu fiquei deslumbrado e comovido

com teu sereno sorriso distante

 

Já caía o entardecer mortiço,

e no meio do tumulto incontido

o acaso convergiu num só instante

 

Vi primeiro o teu vulto no passadiço

entre a multidão e o intenso colorido.

Foi a visão breve da perfeição inconstante

 

Mas tive medo, pensei em compromisso

sorte assim deve ser de alguém iludido

tanta alegria à solta assusta o hesitante

 

Rodeado de imenso, fui omisso

o céu em brasa parecia ter ardido

e havia silêncio no ruído dominante

 

O esplendor ficara hirto e movediço

e escondi-me num amargor sofrido

na desistência do dia sufocante

 

Agora sei que o amor não é nada disso

que no crepúsculo há o caminho ferido

de quem ama de menos para teu amante

 

 

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publicado por Luís Naves às 16:34

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Quinta-feira, 29 de Outubro de 2009

Um pouco mais de eterno

 

Dizem, uma eternidade inteira passou,

todo o tempo do mundo demorou

mas a morte da estrela gigante

lembra a minha tristeza errante

 

somente uma luz fraca que ousou

separar-se da escuridão que restou.

Afirmam que era o sol mais distante

no seu cosmos o menos cintilante.

 

Penso como está longe o que é finito

o tempo é a mão que fecha a porta

que faz esquecer o que não foi dito

 

Treze mil milhões de anos e um dia

um pouco mais de eterno pouco importa

para quem já se cansou que não vivia

 

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publicado por Luís Naves às 21:45

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Adeus, amor

 

 

O ponteiro das horas avança e destina

Sinto por dentro o sopro do deserto

a tua pele que a palidez ilumina

O teu olhar de esfinge, muito perto

 

Viver assim, ao contrário, desatina

tremo de acordar, de ficar desperto

minha alma tomba de uma colina,

o momento que nos resta é incerto 

 

O tempo ouve-se cada vez mais forte

vejo-te, tesouro parado, desnorte

algo que ao acabar não mais acaba

 

Devo dizer-te adeus num só momento,

do deserto vem um sopro de vento:

adeus, amor, o nosso mundo desaba

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publicado por Luís Naves às 15:28

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