“A minha mulher enrolou-se com aquele tipo, mas foi estupidez, porque não passa de um zé-ninguém sem ter onde cair morto”, disse Maddox, com o olhar fixo no fundo do copo.
O empregado estava inclinado sobre o bar, as mãos estendidas, o pano sobre o ombro. Limitou-se a sussurrar ‘isso é aborrecido’ com a ponta da língua, e a inclinar a cabeça, ar cúmplice, como se compreendesse tudo demasiado bem.
“Pois é, Mac, ela explicou que eu já não lhe interessava muito, ‘engordaste como um porco’, disse ela, mas claro que é estupidez, e para mais o outro tipo é um brutamontes, um verdadeiro armário, nada de subtileza ou miolos. Não percebo o que é que ela viu naquele bronco...”
Maddox continuou a dissertar naquele exacto tom durante vários minutos. O empregado ouvia disciplinadamente, sem se mexer:
“Viver é uma chatice”, prosseguiu Maddox, “e as coisas não prometem melhorar. Vocês fazem todo o trabalho e nós não temos nada para fazer. O governo subsidia o nosso estilo de vida, como aliás lhe compete, porque nós é que votamos. Mas limitamo-nos a estar ali, a passar o tempo, percebes? Redundantes, mas dóceis. No fundo, devíamos trabalhar; mas, enfim, depois o que íamos nós fazer?”
“Isso é aborrecido” respondeu o empregado.
“É isso, Mac, é uma vida aborrecida”.
Maddox terminara a bebida, parecia satisfeito. Levantou-se, vagamente inebriado. Pagou e saiu. Um empregado bem simpático, pensou, bem inteligente, aquele Mac, para um robot. Pena aquele leve cheiro a ozono.
(...)