Segunda-feira, 1 de Março de 2010

Uma coisa estúpida


 

Acordara com a boca cheia de papéis molhados. Lâminas de luz atravessavam as frestas dos estores e projectavam-se na parede; saiu da cama; o corpo da mulher enrolou-se nos lençóis, num resmungo; foi descalço até ao banho, olhou-se ao espelho, viu a sua figura desgrenhada: o ventre alargara, tinha a cara pateta.
A manhã foi gasta em atrasos. Os miúdos sabiam que nesse dia não iam à escola. Joaquim Nogueira teve vontade de distribuir tabefes, mas Maria Ângela apoiava as crianças. Quando saíram para as compras eram quase dez horas e viu que o carro tinha pouca gasolina, por isso pararam no posto de abastecimento, mas havia uma fila imensa porque o preço ia subir na semana seguinte e todos os forretas atestavam. Começou a buzinar para um idiota que não saía da frente e este respondeu com um gesto obsceno. Hesitou se saía do carro para esmurrar o filho-da-mãe, mas o tipo de dedo no ar foi salvo pelo que disse Maria Ângela:
“Se não o tens maior do que isso…”
Fora tão ridículo que desataram os dois a rir. E o gajo, ao vê-los a rir, meteu a viola no saco. Depois, arrancou da fila com chiadeira de pneus. Tinha um daqueles carros tuning, todo artilhado. Joaquim abanou a cabeça, a lamentar, enquanto o puto, inclinado para a frente, perguntava aos pais de que se riam:
“Coisas de adultos, chega-te para trás”, gritou Joaquim.
Saíram da bomba de gasolina e seguiram em procissão até ao hiper. Havia bicha, o costume. Depois, andaram às voltas.
“Eu queria vir mais cedo para poder estacionar”, protestou, para Maria Ângela, a culpá-la pelo atraso. Mas ela encolheu os ombros.
Encontraram o vizinho David à porta do supermercado, numa barafunda de gente que entrava e saía. Era um daqueles encontros por acaso, meio incómodos.
Joaquim reparou que o vizinho parecia distraído, a olhar para Ângela, mas foi um gesto tão rápido que mal se podia notar, um embaraço quase inocente. Ela inclinara a cabeça, numa submissão, talvez numa promessa. Depois, recompôs-se, disfarçou. Houve um relâmpago de beleza na face dela, sorrira com alguma malvadez. Maria Ângela andava com mais cuidado na aparência (crises de trintona, pensava). Sentiu uma comichão de incerteza. Era coisa para estragar o sábado a qualquer um.
Só depois apareceu a mulher de David, uma gorda macambúzia. Reparou como era feia: cabelo espigado, de quem não ia ao cabeleireiro; a pele por tratar, unhas roídas. E os dentes, um desleixo. Não admirava que o tipo deitasse olhares à mulher alheia.
Trocaram cumprimentos de circunstância. Afectuoso, David metia-lhe a mão na ilharga: um compincha, como um carteirista procura a carteira. Estás bom, estou óptimo, eu também, andas mais barrigudo, tens de ver isso. O malandro cravava a farpa. Joaquim Nogueira esteve quase para comentar a perda de cabelo do vizinho, mas o outro teria a resposta clássica, que era sinal de bom amante, e não quis dar abébias.
Depois, o vizinho David seguiu para as lojas do exterior do estacionamento, com a feiosa da mulher dele.
O hiper parecia um comício. Pessoas aos berros, uns mais apressados, ninguém com paciência, todos a olharem para o ar, na direcção das prateleiras altas, como bandos de patos a andarem no chão, de bico espetado, olhando o ar como num sonho. E, na confusão, a música suave em fundo; Sinatra, pareceu-lhe Sinatra, como era a canção? Something stupid, um tipo que quer encontrar alguma coisa de inteligente para dizer e não consegue, diz sempre uma coisa estúpida. E o raio da melodia ficava de tal maneira no ouvido que fez deslizar o carrinho às voltas, como se estivesse a dançar. Maria Ângela queria ir para outro lado e chamou-o e discutiram e ele deu-lhe o carrinho e os miúdos e disse que se encontravam naquele exacto lugar daí a 40 minutos. E foi assim que, sozinho, avançou para a zona das televisões, enquanto assobiava something stupid, a fazer-se ouvir sobre uma música nova, que não queria saber qual era; aquela entrara-lhe pelo ouvido dentro e parecia que lhe rebentava a cabeça.
Ficou a ver os produtos num espaço de roupa de desporto. Os emblemas eram engraçados. Percebeu que havia promoções e pechinchas, e viu aquele fato de treino azul, de duas peças. E ocorreu-lhe então o comentário do vizinho David (estás barrigudo) e estava: tinham posto um espelho naquela secção e observou-se, primeiro de frente, depois de perfil; o ventre inchara e parecia mais atarracado e as costas dobradas davam-lhe mais anos. Que diabo, não tardava a obesidade irreversível. Era urgente que fizesse corrida e devia começar quanto antes. Tinha umas velhas sapatilhas em casa, faltava-lhe o fato de treino. Correria nas traseiras da última fileira de prédios do bairro, na estrada antiga, restos de uma urbanização que nunca fora construída, junto a um eucaliptal onde havia umas barracas. Uma pista perfeita.
 Pegou no fato de treino e foi à procura da família.
Viu Maria Ângela e os dois miúdos na quinta fila e, quando se aproximou, a mulher estava a passar um ralhete à menina, que não parava quieta. Havia nervos no ar.
Maria Ângela interessou-se pelo que ele trazia na mão, mas a pergunta foi irónica. Joaquim explicou que era um fato de treino, barato e tudo.
“Setenta euros, barato? Estás maluco?”
Ficou calada, como quem dizia que não queria discutir. Mas estava zangada e deitou-lhe um olhar de censura quando ele lançou o fato de treino para o carrinho de compras.
“Vamos para casa, estou farto disto”, disse ele.
“Falta a fruta. Os meninos precisam de comer fruta”, respondeu a mulher, numa fúria.
Quando saíram era quase meio-dia. Ainda gastaram tempo na fila para sair e no acesso à estrada, numa rotunda que entupia aos sábados. A irritação só passou quando Maria Ângela lhe berrou para guiar com menos acelerações, porque os meninos não se seguravam no banco de trás. Avançava dez metros depressa e travava; depois, repetia, como se quisesse abalroar o carro da frente e só desistisse no último segundo. Então, distraiu-se, e houve um guincho fundo que o assustou, o som de vidro estilhaçado e, no silêncio, irrompeu a sentença do puto, atrás: “Já fez merda”, disse o sacaninha precoce.
Enquanto se iniciava a berrata no interior do carro, com a miúda a chorar e Maria Ângela aos guinchos para que ela se calasse, o que só aumentou a crise, Joaquim saiu para ver os estragos. O carro da frente, um corsa verde, perdera um farolim da traseira. Da viatura saiu uma rapariga que não tinha vontade de lhe perdoar a entrada atrás. Vinha vermelha como uma virgem. E no ar começou uma furiosa buzinaria, enquanto um velhote a pé se aproximava, solícito:
“Vi tudo, menina, ele teve a culpa”, disse o velhote transeunte.
 “É o que dá ter pressa”, afirmou a rapariga.
“Põem-se a travar quando não há nada à frente”, defendeu-se Joaquim.
Aquela tentativa de contornar o problema teve a propriedade de a irritar ainda mais. Ela pôs as mãos na cintura fina, a boca torcida descontrolava-se e perdera a beleza, avançou com o peito:
“Ouça lá, você não vinha a fazer habilidades, ali atrás?”
“Só digo que as pessoas travam por tudo e por nada. Deviam proibir as mulheres ao volante, porque se assustam com a própria sombra”.
O tom de voz dela subiu para sol sustenido:
“E ainda acha que tem razão? Bate-me na traseira e ainda acha que tem razão? ”
O velho saltara em defesa da dama, cuja traseira (observou Joaquim quando ela se virou para tirar a mala do interior do carro) aliás era bastante larga e, portanto, difícil de evitar, mas não o disse assim, estava disposto a apaziguar a situação.
“Eu vi tudo. Este senhor vinha a fazer ralis e não travou a tempo”, explicou o velho, a meter-se onde não era chamado.
A buzinadela colectiva dos carros que se acumulavam depois da rotunda tornou mais urgente a resolução do problema. O irritante era a cacofonia das diferentes buzinas, umas mais agudas e prolongadas, outras curtas e graves. Faziam doer os ouvidos. De súbito, Joaquim sentiu-se desconfortável, com a fúria da rapariga, os estilhaços do farolim, as mãos na ilharga (genes de varina) e o ar beato do velho, e um carro que irrompia, a acelerar na faixa contrária o condutor a gritar insultos. As coisas começavam a andar à roda; estava tudo distorcido. Só havia uma saída: render-se.
“A culpa é minha, tudo bem”, admitiu, nem assim apaziguando a rapariga, que desatara numa lição de moral, ainda a dizer que ele era um chauvinista, enquanto o velho lhe chamava fangio de meia tigela. Porque é que estavam a fazer tanto barulho? Sugeriu que tirassem os carros do caminho, apontou para um local onde poderiam preencher a papelada do seguro e teve de rosnar para o velhote para que se afastasse, porque este tentara atiçar as brasas, a inventar que não podiam tirar as viaturas do local antes de a polícia chegar. Atrás, apitava-se com energia e a rapariga cedeu. O prestável cidadão sénior resmungou qualquer coisa sobre a ingratidão e retomou a marcha.
“É melhor dares de frosques”, disse Joaquim, de vingança para o velho, mas em voz muito baixa, de maneira a que ninguém o ouvisse.
Gastou meia hora a preencher os papéis do seguro. Depois, fugiram para casa e Maria Ângela preparou o almoço. Os miúdos não paravam quietos, mas a sua mulher ficara calada, demasiado calada. O silêncio antes da tempestade.
Apenas trocaram palavras de circunstância. Ela ralhou-lhe quando começou a deitar sal na comida e ele ainda deitou mais, em desafio, mas a comida ficou demasiado salgada. Comeu com dificuldade, mas sem mostrar repulsa, para não dar parte de fraco. Uma porcaria, mas comeu em excesso e ficou pesadíssimo, com tanta água que teve de beber.
A refeição tornou-o sonolento, mas o miúdo queria ir jogar à bola e prometera-lhe brincar à tarde.
A tarde estava calma, mas o bairro parecia anormalmente habitado. Quando pensava nisso, sentia quase um arrepio: nos dias de semana, aquela era uma cidade fantasma; só recuperava ao fim de cada dia, quando toda a gente regressava do trabalho, desembarcando em pequenos exércitos de cada vez, na estação de comboios. E, no crepúsculo, as luzes dos prédios começavam a acender-se, um quadrado de cada vez; até que, quando já estava noite escura, cada edifício se iluminava como uma grelha de bingo, fila completa, cartão completo.
No quarteirão havia uma tira de verdura: árvores raquíticas, que a câmara plantara na Primavera anterior, e com três bancos corridos, um dos quais à sombra, onde se sentara um homem, a ler um livro de bolso. E entre os bancos, um espaço plano que servia para jogar. Foi o local que escolheram, sem carros nem vidros à volta, e se dessem um chuto mais forte a bola não iria para longe.
Começaram por dar toques suaves na bola, mas faziam barulho. Reparou, pelo canto do olho, que o homem sentado os observava ansiosamente: o livro aberto começou a descer um pouco, para um ângulo afastado que tornava difícil a leitura, e o olhar dele fixava-se por vezes nos dois jogadores, óculos precariamente pendurados no nariz; mas não se entendia se o gesto era de irritação, curiosidade ou de quê. Por vezes, o homem movia o corpo, com impaciência. Entretanto, o miúdo excitara-se e fazia cada vez mais barulho, disparando a bola na direcção de Joaquim com força e ainda mais força, a imitar os craques do futebol. Sentiu uma vaga de terno bem-estar, por brincar com o filho, mas o interesse lateral pelo homem sentado perturbava o que lhe sobrava da sensação agradável. E resumia mentalmente: o maduro veio para a sombra do jardim ler e começa a estar irritado com o barulho que o impede de se concentrar na leitura. Com um pontapé seco, o miúdo chutou a bola com força inesperada e ela voou até ao banco de jardim, atingindo o homem em cheio. Livro e óculos voaram para o chão e o homem ficou paralisado, o olhar indignado a fuzilar Joaquim Nogueira.
 “Porque é que não vai brincar com o seu filho para mais longe, para um sítio onde não incomode as pessoas?”, disse o homem, com uma aparente calma.
Joaquim ficara sem resposta. Esperara mais agressividade, mas decidiu combater. Que direito tinha aquele pedante de se sentir superior?
“O miúdo não volta a chutar com tanta força”, prometeu.
O outro enervava-se:
“O senhor está a incomodar, não percebe isso?”
“Só demos alguns chutos na bola. Não estamos a incomodar ninguém”.
“Não é verdade. Está a incomodar-me. Estou a tentar ler”.
“E quem o impede? Não voltamos a chutar na sua direcção”.
O homem parecia estupefacto e ficou em silêncio, muito corado. Para Joaquim, a equação era simples: se o outro queria discutir por causa de uns chutos na bola e por causa de um livro, então força, que o fizesse. Estava disposto a defender o seu direito de brincar com o filho num espaço público. Aquele local não era de quem chegava primeiro e se instalava a ler. E que lhe importava isso? Ler não ocupa espaço, nem é incompatível com o divertimento de cada um.
Tinha o pé sobre a bola, parada no chão, mas num golpe leve fez com que saltasse no ar e deu-lhe três toques, até a perder de novo. O homem levantou-se, hesitou, depois abandonou o local, sem mais uma palavra.
O desconhecido tivera uma reacção estranha. De repente, deixara de fazer sentido continuar a dar toques na bola. Teve dificuldade em convencer o miúdo de que não lhe apetecia continuar o jogo. O puto quase chorou, mas teve de aceitar. Joaquim pegou na bola e subiram para casa. Eram três e meia, hora de transição, parecia-lhe, enquanto os habitantes dormiam a sesta ou terminavam os passeios depois de almoço, outros saíam para visitar as famílias, deixando lugares de estacionamento. E até o ruído lhe parecia diferente, pausa de tranquilidade a soar fantasmagórica.
Quando chegaram perto da casa, o filho já se esquecera da bola e anunciara que queria ver televisão. Joaquim subiu as escadas como se subisse ao calvário. O peso da angústia, que não sabia de onde vinha, quase o asfixiava.
Em casa, reinava o silêncio. A miúda ficara no quarto, a fazer os deveres da escola, e o rapaz desapareceu na sala, para ver televisão. Maria Ângela deitara-se. Fechara os estores, para manter o quarto escuro. Ele entrou sem fazer barulho e percebeu que ela não adormecera. Perguntou o que se passava e recebeu em troca um murmúrio. Enxaqueca.
Sentou-se na borda da cama. Ela estava vestida, descalça, as mãos sobre a cabeça, a esconderem os olhos.
Uma qualquer ferida por mencionar alastrava como se fosse uma mancha inerte e cuja dor era igual a uma comichão, ligeiramente incómoda a princípio, mas sempre presente e nunca insuportável, tornando-se a pouco e pouco rotina, facto quase irrisório e esquecido.
Uns vagos ciúmes ou o desinteresse. Ela engordara nas ancas, parecia mais pesada. Tentou recordar-se do corpo dela e percebeu, com surpresa, que se lembrava apenas de fragmentos, de episódios soltos do passado.
Que restava de tudo isso? Uma certa forma de ruínas, pensou.
Foi então que se lembrou do fato de treino. Onde estava? Foi procurá-lo, desembrulhou-o, cheirava a goma e plástico. Vestiu-o, pôs as sapatilhas velhas e saiu de casa.
Levantava-se uma brisa que fazia ondular os eucaliptos. Atrás dos prédios soturnos, havia uma velha estrada esburacada. A pista de corrida ideal. Joaquim Nogueira olhou à volta e não viu ninguém. Sentiu uma calma estranha, mas uma outra sensação que o inundava, primeiro devagarinho, depois numa irrupção violenta. Raiva, sim, era raiva o que sentia: pelas humilhações que cobriam toda a sua vida, como um orvalho.
A primeira corrida foi a passo ridículo; dava pequenos saltos, à semelhança daqueles coelhos que não querem fugir dos caçadores por não se aperceberem do perigo; depois, ligou o turbo e correu vinte metros numa explosão de vigor; e recomeçou o passo lento, um passeio na avenida. Chegou ao outro lado da estrada. Andara cem metros e havia uma barreira que tapava metade do caminho; para além do obstáculo, via-se o topo de algumas barracas. Não teve curiosidade e largou numa corrida forte em sentido contrário, a deitar tudo cá para fora, acelerando até ficar sem fôlego; depois, outro lanço a velocidade, para suar bem e descarregar a irritação que o consumia nos próprios ossos. Correu, correu loucamente, até sentir os músculos das pernas a sufocarem. E parou junto à barreira, para encher os pulmões. Sentia uma sede devastadora e o corpo inchara de força.
E foi nessa altura que viu os dois pretos, que olhavam para ele. Estavam parados, com ar mau, observando o que ele fazia. Assustou-se de repente. Deviam ser das barracas. Talvez fossem ladrões. Sentiu que não havia fuga, que não teria velocidade para fugir deles, pois as pernas estavam esgotadas e a raiva dissipada tornava-o um cordeiro disposto ao sacrifício. E na mão de um dos pretos brilhava o que lhe pareceu ser uma faca. Sentiu um arrepio de puro pânico.
Nem pensou muito. O cansaço, o medo e a dor vieram todos ao mesmo tempo, as pernas fraquejaram e caiu no chão, sem conseguir respirar e sem poder mover-se. O braço foi trespassado por uma dor destruidora, de mil agulhas cravadas. Tinha os olhos abertos na direcção do céu e ainda viu a cara dos dois pretos que o olhavam, no contraste do azul, muito alarmados, segundo lhe pareceu.
E um dos homens dizia para o outro para chamar uma ambulância; não sabiam o que fazer.
E a faca era um telemóvel e um dos pretos chamava alguém do outro lado:
“Ficou mal, está caído, andava a correr na estrada, vestido com um fato de treino muito quente”. E um sussurro eléctrico, incompreensível, saía do aparelho.
Os pretos abriram o fato de treino. Obedeciam a instruções do além. 
“Aguenta, vizinho, aguenta um pouco que já vem ajuda. Os médicos dizem que se calhar tiveste um farto do coração e que tens de aguentar um bocadinho”, disse o homem que falara ao telemóvel. “Estão mesmo a chegar”.
Joaquim pensou em água. Rios de água fresca. Tentou dizer a palavra água, mas a boca não se movia. O braço formigava e o peito parecia ter fogo a correr-lhe dentro como se fosse água. Mas a sede era o que lhe doía mais. E, ao longe, pareceu-lhe ouvir a melodia de Sinatra. Com receio de dizer qualquer coisa de estúpido, decidiu não dizer nada.
Os dois pretos desconhecidos continuavam debruçados. Não saíram dali até se ouvir uma sirene que se aproximava, numa aflição. Joaquim Nogueira notou uma grande calma na sua raiva. E, tirando a sede, sentiu-se bem, verdadeiramente bem, até chegar a escuridão.

 

Publicado na revista das Correntes d'Escritas 2010 

publicado por Luís Naves às 23:36

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